Joyce Galvão |
Mas a questão era que eu realmente queria cuidar do bem-estar das pessoas, só que eu não queria ser médica, na verdade, eu não necessitava da carreira de Medicina para poder dar uma atenção especial às pessoas, eu sabia, de alguma maneira que poderia tocar o coração delas e surpreendê-las com a minha paixão pela comida, e eu provavelmente, deveria me transformar em uma cozinheira. [Será?]
Foi então que o medo e a dúvida surgiram na cabeça de uma adolescente de 19 anos, que já havia sido garçonete, bartender e vivia enfurnada na cozinha fazendo bolos e almoços para a família. O que eu faço? Será que realmente eu devo deixar para trás uma carreira promissora de médica, para me afundar nas traquinagens de uma cozinha?
Naquela época eu não poderia estar pedindo opinião dos meus pais – que se bem me lembro, ouvi meu pai me dizendo: se é o que você gosta, se é o que te fará feliz, não tenha dúvidas em seguir esse caminho. – mas a realidade sempre é outra. Quando finalmente decidi me dedicar de corpo e alma à Gastronomia, foi então que minha família meteu o bedelho e aquele apoio todo se transformou na frase: “mas eu queria tanto uma filha médica.”
Hoje estou aqui, AMANDO! Entre palavras, facas e panelas e muito feliz com o caminho que escolhi. Já passei por diversos problemas, por muitas dúvidas e infelizmente por muitas barreiras dentro da cozinha, mas continuo aqui, em pé, mesmo depois de muita coisa [e pessoas] ter tentado me derrubar. Porém, felizmente meu amor pela cozinha sempre pega a minha mão e me diz: “Vamos lá, vamos continuar seguindo, pois ainda há muito por ser visto e descoberto, e isso tudo precisa de você!”
Por isso eu digo aos jovens que tenho conhecido e que me perguntam se realmente gastronomia é uma profissão boa: nenhuma profissão vai ser boa se dentro de você não existir aquele calor com que te fará acreditar, e realmente saber, que está no caminho certo, e que nada, nem nenhuma dificuldade será capaz de te desviar do destino que você tem objetivado na sua cabeça, e principalmente em seu coração.
Mas caso essa chaminha não exista ainda dentro de vocês, eu indico que conversem com quem trabalha na área, com quem já passou pelas dificuldades da cozinha e principalmente com quem está ai, no topo da lista dos melhores e bem sucedidos. Afinal, nada melhor do que uma pessoa que venceu na vida para nos motivar!
Abaixo, reescrevo a carta que recebi na época da minha entrada na faculdade, do chef Renato Freire, da Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro, quando era eu que buscava alguém com um coração do tamanho do seu amor pela cozinha, para me ajudar a seguir o caminho que meu próprio desejo estava me mostrando."
Olá Joyce.
Tudo bem com você?
Obrigado por seu email e pela gentileza. Seria um prazer recebê-la na Colombo.
Quando ao seu receio de como começar na carreira ele é normal e todo mundo passa por esta situação. O importante é estar bem preparada e com confiança no que sabe fazer, e claro nunca tentar dar um passo maior do que as pernas podem dar naquele momento.
Acho que um pouco de seu receio é devido ao fato de que no Brasil por puro preconceito e glamorização da mídia, a profissão de Chef ficou deturpada. Na realidade a profissão é cozinheiro e o Chef é um cozinheiro com uma brigada sob seu comando. Mas como no Brasil a palavra cozinheiro soa pejorativo, o uso da palavra chef se alastrou para todos os cozinheiros principalmente quando eles tem um nível social/cultural mais elevado.
Nós do meio devemos ter orgulho de sermos cozinheiros e artesões em primeiro lugar. O cargo de chefia é uma contingência da profissão. Acho que as pessoas como você, que estão iniciando um curso superior de cozinha, não devem ficar preocupados em arrumar um trabalho de chef já no primeiro momento, e sim trabalhar um tempo como cozinheiro e depois dentro de uma cozinha profissional, adquirir prática e experiência para poder se tornar uma chef de verdade.
A prática é fundamental e imprescindível. É necessário viver as situações de uma cozinha comercial, seja em restaurante ou hotel, que é bem diferente do que somente é passado na teoria na escola.
O chef de uma grande brigada precisa saber muito mais do que apenas cozinhar muito bem, precisa ter liderança, raciocínio rápido, muita psicologia e autoridade entre diversas outras aptidões. Sugiro que você desde já procure ao máximo estar em contato com a profissão e se ainda não trabalha, procure um estágio, estudo e pratique muito.
Fico muito feliz em ver que aos poucos vamos mudando o mercado da gastronomia no Brasil, é de pessoas como você que depende o desenvolvimento da nossa culinária. Parabéns pelo curso e não se aflija, pense primeiro em ser uma excelente cozinheira, depois com certeza você poderá ser uma excelente chef também.
Um grande abraço e muito sucesso,
Renato Freire.
Infelizmente ainda não tive a oportunidade de conversar com o chef e agradecer pelas palavras amáveis que me motivaram e me motivam até hoje a continuar lutando pela Gastronomia Brasileira. Portanto, quem sabe eu ainda terei a oportunidade de agradecê-lo com uma gratidão enorme, por me ajudar hoje, a dizer e fazer o mesmo, com meus alunos e com todas as pessoas que me buscam pedindo conselhos e informação.
Obrigada... e que essa palavra possa tocar o seu coração."
Por Joyce Galvão (apresentadora do programa A Confeitaria, no canal Bem Simples, professora de Gastronomia, palestrante sobre o tema Ciência na Cozinha, blogueira por pura e extrema paixão e ainda tem tempo para ser esposa, cuidar da sua horta e fazer muitos planos para o futuro)
Saiba mais:http://gastronomicas.blogspot.com.br/
"Cada instrumento tem sua alma quando é cantada" |
Amei essa participação e a incrível coincidência, pois o Renato abriu grandes portas para o blog! O Renato AMA o que faz e compartilha esse lindo sentimento!!!
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